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Saindo do armário: enfrentando o preconceito dentro de casa

Por Renata M. Westphal

 

O que é preconceito todo mundo sabe. No dicionário a definição de preconceito é bem clara: "atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos". Obviamente, ninguém gosta de ser vítima de nenhum tipo de pré-conceito, seja por cor da pele, religião, sotaque, tipo físico ou orientação sexual. Nenhuma exclusão ou desrespeito podem ser justificados por simples preconceito.

Transexuais, gays, bissexuais e lésbicas entendem, infelizmente, muito bem o que é enfrentar o preconceito. Sentem na pele, todos os dias, o que é sentar no ônibus e ver pessoas recusando a sentar aos seus lados, passar na rua e ouvir palavras que não merecem e olhares que não os pertencem apenas por terem uma orientação sexual “diferente”. Sabem o que é apanhar, e ter que engolir um grupo de “machões” quando passam na rua de mãos dadas com o parceiro.

 Não bastasse a discriminação da porta pra fora de casa, a comunidade LGBT enfrenta, em muitos casos, um desafio muito maior no momento em que se assumem: o preconceito familiar, que com certeza é o mais doloroso e impactante. Isso porque, na teoria, a família é o alicerce, o refúgio e a proteção. Mas nem sempre é assim. 

Lenilso Silva é membro do coletivo Liberdade, de Blumenau, e explica que o preconceito familiar pode ser chamado de LGBTfobia intrafamiliar, e que é a primeira negação enfrentada depois de se assumir. "Na maioria das vezes, acontece dentro de casa. Às vezes a mãe e o pai até aceitam e adoram o filho do vizinho que é gay, a colega do trabalho que é lésbica. Mas a partir do momento que “isso” acontece dentro de casa, a história muda, e tolerar a orientação sexual do filho, do sobrinho ou do neto... já não é tão fácil assim", diz.

A homofobia familiar pode acontecer por vários motivos. Às vezes é por puro preconceito, os parentes não aceitam e pronto. Por outro lado, às vezes é só um medo disfarçado e a rejeição acontece como uma forma de proteção da sociedade homofóbica, mas nem por isso é mais amena. Ser excluído dos eventos familiares, sofrer agressões, torturas psicológicas com comentários ofensivos e chegar a ser expulso de casa pode desencadear sérios problemas.

A psicóloga Caroline Busarello Brüning, explica que a ausência do suporte familiar  pode gerar transtornos em pessoas que já possuem a predisposição para isso “são várias as consequências psicológicas para quem se assume gay, lésbica, trans ou bi e não é aceito na família. Eu falo de angústia, oscilações de humor, raiva, ressentimento, e dificuldade em confiar em outras pessoas. Em alguns casos a história é outra, e mesmo não sendo aceito dentro de casa o indivíduo consegue lidar com essas dificuldades, mas é uma situação rara de se ver”, aponta.

Nem todas as histórias da comunidade LGBT apresentam apenas preconceitos. Alguns relatos de lésbicas, gays, trans, e bissexuais, as vezes, nos tocam. Sthefany Alves é transexual e se assumiu ainda bem jovem, foi com doze para treze anos. Desde então deu início ao tratamento hormonal e todos passaram a conhecê-la por Sthefany.

O interessante dessa história é que ela não cai na vala comum da maioria das aceitações LGBT intrafamiliar. Sthefany sempre recebeu o apoio da mãe, que escolheu se separar do próprio marido que não aceitou a filha como transexual.  Hoje, quase oito anos depois de mostrar ao mundo quem realmente é, Sthefany namora, é cabeleireira e maquiadora. Depois de levar muitos “nãos” para propostas de trabalho ela agora trabalha com o que realmente ama.

Refletindo sobre a própria história, e conhecendo de perto a realidade de várias amigas, Sthefany faz um único apelo: “ Se você é mãe e tem um filho passando por essa fase, eu peço que abrace seu filho, se não o mundo lá fora vai abraçar. O preconceito que mais dói é o que vem de dentro de casa”.

Duas histórias completamente opostas sobre a aceitação de um LGBT na família e os efeitos psicológicos de quem passa por isso

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