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O futuro da igualdade de gênero está na escola

Por Ana Paula Dahlke e Alice Kienen Gramkov

 

Uma pesquisa da Unesco envolvendo juventude e sexualidade apontou que ¼ dos alunos entre 15 e 19 anos não gostariam de ter um colega homossexual, sendo que quase 20% deles ainda considera homossexualidade uma doença. Estes dados são de 2004, mais de uma década atrás, mas essa realidade pode demorar a evoluir. No ano passado a Câmara Municipal de Blumenau aprovou 26 emendas para o Plano Municipal de Educação, excluindo totalmente a educação de gênero nas escolas do município. E isso também aconteceu em várias outras cidades.

 

Boa parte do país – influenciado pela bancada evangélica – caminha em direção a políticas ainda mais conservadoras quando se trata da discussão de gênero. O medo deles? Que as crianças sejam influenciadas pelo que eles consideram uma “Ideologia de Gênero”. Dessa forma, os alunos e, consequentemente, a sociedade, permanecem sem entender e debater estes assuntos, que estão baseados em parâmetros científicos, e não ideológicos. A historiadora e professora Tairine Deola explica melhor esse problema:

 

 

 

 

 

 

 

As consequências? O Brasil, popular por ser um país tão amigável e caloroso, é o que mais mata transexuais e homossexuais no mundo, segundo o relatório do Grupo Gay da Bahia de 2013. Além disso, estamos em sétimo lugar no ranking mundial de feminicídio. A cada noventa minutos, uma mulher é assassinada no país, graças ao machismo naturalizado em nossa sociedade. A pesquisa é do Instituto de Pesquisa de Econônica Aplicada (Ipea) e também mostra que a maioria dos assassinatos são cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Mas a agressão também está presente no dia a dia. Segundo a pesquisa, Menina Pode Tudo (realizada no ano passado pelo Énóis I Inteligência Jovem, Instituto Herzog e Instituto Galvão) 91% das meninas já sofreram agressão verbal na rua, enquanto 41% já sofreram algum tipo de agressão sexual.

 

A escola blumenauense de educação infantil e fundamental Yellow Tree vai contra essa corrente. Para sua fundadora e diretora, Raquel Stumpf Bernardes, as crianças precisam ter liberdade para serem elas mesmas, mas, acima de tudo, aprenderem a ter amor e respeito ao próximo. Para entender um pouco melhor a importância deste debate dentro da escola.

 

 

 

 

É importante lembrar que falar de gênero nas escolas não é necessário apenas para acabar com a homofobia, mas também com o machismo. Ainda hoje é comum ver as meninas ajudando muito mais com os serviços de casa do que os meninos, ou a ideia de que quem cuida dos filhos é a mãe, apenas. E mesmo muitos acreditando que é papel dos pais ensinar aos filhos que precisamos respeitar o próximo, a escola também deveria se responsabilizar por isso. “É no dia a dia da escola, onde adquirimos conhecimento, que nos tornamos pessoas melhores”, explica a psicóloga Caroline Busarello Brüning, especialista em sexualidade.

 

A escola tem a obrigação de proteger os seus alunos, fazendo dela um espaço de segurança para os jovens. “Eles não são os únicos responsáveis, mas eles têm o dever de plantar a semente”, comenta a psicóloga. Mas ela também aponta a maior dificuldade. Para educar os alunos é necessário, antes, educar o corpo docente. A pesquisa da Unesco demonstrou que muitos professores consideravam a maioria dos casos de homofobia uma brincadeira, por isso não interferem quando veem alunos sendo discriminados.

 

Caroline explica que é importante para as crianças entender as diferenças. Elas precisam aprender a compreender que os colegas podem gostar de coisas diferentes. Mas que não necessariamente precisam gostar das mesmas coisas. “Todo mundo tem direito à opinião, mas você precisa aprender a respeitar. Julgar é uma coisa humana, mas emitir julgamento é algo que todos podem aprender a controlar”, explica ela.

 

Para tentar mudar essa realidade, a Quatro Produções Artísticas visita escolas levando o projeto Pedagógico Entre Nós . Em turnê pelo Brasil todo com a peça teatral Entre Nós – “Uma comédia sobre diversidade”, segundo eles – o grupo de artitis e sua equipe aproveitam as apresentações nas cidades para visitarem escolas. São debatidos temas relativos à diversidade sexual, homofobia e direitos humanos, visando o respeito ao próximo.

 

Eles já estiveram em mais de trinta escolas com as atividades, que contam com a participação de uma pedagoga e educadora sexual, um arte-educador e a apresentação da peça. Tudo começa com uma palestra intitulada “As múltiplas formas de manifestações da sexualidade”, que conta com a participação dos professores e alunos. Após assistirem ao espetáculo, eles debatem sobre o tema e expõem sua opinião. Em seguida, eles retornam à sala de aula para uma síntese do que foi apreendido. São três dias de trabalho, discussão e aprendizado. Tudo visando respeitar algo tão natural, mas tão complexo: o amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entretanto, o papel da discussão de gênero vai além de educar os estudantes, ele também é importante para incluí-los. Não são poucos os jovens que abandonam a escola por se sentirem excluídos e sofrerem agressões – não apenas de colegas, mas também de professores. Na pesquisa da Unesco, alguns professores responderam que não gostariam de ter alunos homossexuais, enquanto outros responderam que “não têm preconceito, mas preferem eles longe”. Mas o mais chocante é que nem mesmo a metade deles afirmou entender a homossexualidade.

“Se queremos mudar a sociedade precisamos começar mudando a forma de educar as crianças”, Raquel Stumpf Bernardes

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